Revelações perturbadoras em Hollywood: as acusações contra Diddy
Sean Diddy Combs foi preso no último dia 16, em Nova Iorque, acusado de tráfico sexual, formação de quadrilha e prostituição. Entenda as acusações sobre o rapper.
Texto por: Ana Beatriz Ortega, Beatriz Felizardo, Isabela Torquato e Maria Clara Marques.
No dia 16 de setembro de 2024, Sean Diddy Combs (conhecido como Diddy, Puff Daddy ou P. Diddy) foi preso em Nova Iorque, aos 54 anos, acusado de tráfico sexual, formação de quadrilha e promoção da prostituição. Até o momento, 120 processos de abuso sexual estão previstos para serem abertos contra o rapper.
QUEM É “DIDDY” COMBS?
Sean John Combs, criado em Nova York, é uma figura importante no mundo da música norte-americana e considerado um dos pioneiros no cenário do hip-hop global entre os anos 1990 e 2000.
Em 1990, ele estagiou na Uptown Records, onde permaneceu por três anos. Em 1993, fundou sua própria gravadora, a Bad Boy Records. Foi um dos responsáveis por tornar o hip hop um dos gêneros mais populares da época, especialmente pelos artistas que levou ao estrelato, sendo um deles The Notorious B.I.G., que morreu em 1997. Entre os nomes com os quais participou da produção ou assinou contratos estão Mary J. Blige, Usher, Mariah Carey, Lil’ Kim, TLC e Boyz II Men.
Em 1998, conquistou o Grammy de Melhor Álbum, o que deu um impulso à sua carreira no setor de empreendedorismo, permitindo a expansão para empresas de bebidas alcoólicas e moda.
Na época em que lançou seu primeiro álbum de rap, Diddy também criou sua própria linha de roupas, a Sean John. A marca fez sua estreia na Bloomingdale’s, em Nova York, em 1998.
Diddy também fez diversos investimentos e parcerias no setor de bebidas alcoólicas e cannabis. Em 2007, ele se uniu à empresa Diageo para aumentar a visibilidade e as vendas da vodca Ciroc e da tequila DeLeón.

“p diddy sabe se divertir”. foto de Daniel Incandela em flicker.com
O DESDOBRAMENTO DOS CRIMES
No entanto, a fama de Combs não foi o suficiente para acobertar suas infrações: Diddy enfrentou seus primeiros problemas legais nos anos 90. Em 1998, ele foi acusado de agressão, no ano seguinte, foi acusado de posse de arma após um tiroteio em uma boate e acabou sendo absolvido das acusações. Com o passar do tempo, o rapper foi acumulando uma pilha de processos relacionados a drogas, agressões sexuais e tráfico.
As acusações começaram em novembro de 2023, quando a cantora Cassie Ventura entrou com uma ação judicial contra Diddy, seu ex namorado. Nesse processo, ela alegou ter sido vítima de abusos físicos, emocionais e sexuais ao longo de seu relacionamento, que durou uma década.
A última agressão de Combs ocorreu em 2018, após o término do relacionamento, quando o rapper invadiu sua casa e teve uma relação não consensual com a cantora. Os abusos começaram antes do namoro e continuaram mesmo após o fim. Poucos dias depois que essas alegações vieram à tona, o processo foi arquivado e ambos anunciaram que haviam chegado a um consenso.
“Decidimos resolver esse assunto amigavelmente. Desejo a Cassie e sua família tudo de bom” afirmou o rapper.
Após as denúncias feitas por Cassie, nove pessoas — sete mulheres e dois homens — buscaram a justiça para relatar abusos semelhantes. Isso deu início a uma investigação federal que resultou em um mandado de busca e apreensão nas propriedades do rapper, em março deste ano.
Em fevereiro de 2024, o produtor musical Rodney Jones denunciou o rapper de ter tentado seduzi-lo para uma relação homossexual durante as gravações do álbum lançado por Diddy em 2023. Os advogados de Diddy, no entanto, afirmaram que se trata de “pura ficção”.

Imagens das “festas do branco” de Diddy viralizam na internet – foto/reprodução/youtube
Em março de 2024, as casas de Diddy em Los Angeles (Califórnia) e em Miami (Flórida), foram alvo de buscas por parte do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos. A investigação resultou na apreensão de mil frascos de óleo de bebê, para uso de lubrificante. Também foram encontrados gravações das festas denominadas de “freak offs“, onde as mulheres apareciam sendo forçadas a usar drogas e ter a relação sexual, além de armas e munição.
Em maio de 2024, a CNN Internacional divulgou imagens de 2016 tiradas das câmeras de segurança de um hotel, onde Diddy agride Cassie Ventura. Quando o vídeo viralizou nas redes sociais, Diddy emitiu um pedido de desculpas: “Tomo total responsabilidade pelas minhas ações naquele vídeo”, afirma.
Uma das últimas acusações, no dia 24 de outubro, foi por Thalia Graves que acusa o rapper e seu segurança de a drogarem, violentarem e filmarem todas as agressões feitas em 2001.
A defesa do acusado, feita pelo advogado Marc Agnifilo, considera as acusações ao rapper “desumanas” e declara: “Esteja onde estiver, ele tem a mesma determinação. Acredita ser inocente”.
Em entrevista com Daniela Poli Vlavianos, sócia do escritório Poli Advogados & Associados, a advogada abordou a possibilidade de Sean Diddy Combs negociar um acordo com a justiça. Segundo ela, é viável que Diddy busque um “plea bargain”, no qual ele admitiria culpa em troca de uma pena reduzida ou do arquivamento de algumas acusações. A promotoria pode estar aberta a negociações, especialmente se o réu colaborar com as investigações, no entanto, crimes como tráfico sexual são tratados com severidade, e qualquer acordo precisaria da aprovação do juiz.
Outro ponto importante levantado por Poli Vlavianos diz respeito à imparcialidade do julgamento em casos de grande repercussão, exibido pela cobertura midiática e pelas redes sociais. A popularidade de figuras públicas e a rápida disseminação de informações — verídicas ou não — levantam a questão da imparcialidade no processo judicial. A pressão da opinião pública, especialmente quando figuras do mesmo meio apoiam os relatos, pode influenciar tribunais e jurados, tornando difícil garantir que o réu seja julgado apenas com base nas provas apresentadas.
Em situações em que se entrelaçam poder, fama e crimes sensíveis como o tráfico sexual, a balança da justiça pode pender de forma desigual. Assim, o sistema judicial deve implementar medidas excepcionais para assegurar o direito a um julgamento justo. O debate sobre a transparência versus a exposição midiática excessiva continua a ser uma questão central em casos dessa magnitude.

Centro Metropolitano de Detenção no bairro do Brooklyn. foto: reprodução de federal bureau of prisons.
Atualmente, Combs encontra-se detido na prisão federal Metropolitan Detention Center no Brooklyn, conhecida pela violência e precariedade com os presos. Ele também planeja testemunhar durante o próprio julgamento que acontece hoje, 09/10, no qual a defesa tenta novamente a libertação do rapper sob fiança.