O sofá substituiu as poltronas: por que o cinema está ficando de lado?
Os streamings estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas, aumentando o abandono das salas de cinema.
Por Beatriz Felizardo
Assistir a séries e filmes sempre esteve presente na rotina de muitas pessoas e isso está sendo cada vez mais impulsionado com os serviços de streaming – que vem ganhando progressivamente mais espaço. A ascensão das plataformas provoca mudanças significativas nas produções audiovisuais, tanto no Brasil, quanto no mundo todo. O fato de ter uma vasta diversidade de conteúdo em qualquer lugar e a todo momento, tudo isso sem uma programação fixa, fez com que 79% dos brasileiros colocassem os streamings em parte uma parcela dos seus orçamentos, segundo pesquisa feita pelo Serasa em 2024.
Em entrevista à Revista Vulpes, o crítico cultural da página “O cara da Cultura”, Lucas Leite Tinoco, explica: “Com essas mudanças no consumo do streaming, os indivíduos tendem a encarar cinema não como arte, mas como conteúdo social, o que reduz um pouco as discussões inerentes de obras para somente uma forma de se ‘passar o tempo’”.
A velocidade com que esse setor e novas plataformas aparecem no mercado é surpreendente. O Brasil encontra-se na segunda posição do ranking mundial de consumo de streaming no mundo com 64%, atrás apenas da Nova Zelândia, segundo um estudo da Finder.
As plataformas de streaming têm se tornado uma fonte vital de entretenimento para os brasileiros. De acordo com a Finder, 52,69% da população do país é assinante da Netflix, 16,87% da Amazon Prime, 12,09% da Disney + e apenas 9,96% da Globoplay.
O Disney+ é um dos grandes fenômenos no crescimento, pois em apenas oito meses superou o Globoplay. Mesmo com uma plataforma brasileira, a maioria dos conteúdos entregues pelos três principais streamings do país são de origem estrangeira, com 86%, enquanto somente 14% são do audiovisual brasileiro, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), algo que evidencia a necessidade de uma maior representatividade nacional
O abandono das salas de cinema
Sala de cinema vazia. Créditos: Unsplash
Nos últimos anos, o setor cinematográfico brasileiro está enfrentando obstáculos relevantes, evidenciados em dados obtidos pelo Sistema de Controle de Bilheteria (SCB) e pelo Sistema de Acompanhamento da Distribuição em Salas de Exibição (SADIS). Em 2023, houve uma queda de 36% nas vendas de ingressos em relação a 2019.
Na visão de Lucas Leite Tinoco, a economia fragilizada, a falta de políticas públicas e uma possível alienação do público nas redes sociais são agravantes para a queda de espectadores nas salas de cinemas.
As dificuldades de recuperação principalmente após a pandemia de COVID-19 são globais, mas a recuperação do mercado de cinema brasileiro acontece em um ritmo mais lento comparado a outros mercados relevantes. O consumo das plataformas de streaming está mostrando uma queda nas assinaturas dos serviços pagos de 43,5% em 2022 para 42,1% em 2023.
“Hollywood é feita pela ida ao cinema. O monopólio cultural, diria eu, não pode ser desfeito. Os investidores de Hollywood e aqueles que tomam muitas decisões na indústria são os próprios conglomerados cinematográficos, como, por exemplo, as próprias redes de cinema”, relata Lucas em relação de uma possível substituição do cinema pelos streamings.