Conectados pelo passado: Nostalgia e a nova era do entretenimento

A imagem contém vídeo cassete que remete à nostalgia das demais gerações

Conectados pelo passado: Nostalgia e a nova era do entretenimento

Como a nostalgia está redefinindo o entretenimento e preservando o passado

Por Isabelle Machado
Você já percebeu que Cobra Kai, Top Gun: Maverick e a franquia Halloween têm algo em comum?

Todas elas trazem aquele gostinho de nostalgia, permitindo que as gerações passadas revivam momentos marcantes enquanto atraem novos fãs. Essas produções conseguem criar uma verdadeira ponte de entretenimento entre pessoas de diferentes idades, especialmente em fases de mudança, como a entrada na vida adulta ou a chegada da maturidade. Segundo um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology (2021), a nostalgia costuma aparecer com mais força por volta dos 20, 40 e 60 anos, funcionando como um conforto emocional em tempos de transição.

O resgate do passado em tempos de incerteza

Nos últimos anos, a nostalgia se tornou uma ferramenta destacada na indústria do entretenimento. O retorno de franquias clássicas por meio de reboots, remakes e revivals, parece ser uma estratégia certeira para atrair um público diverso. Top Gun: Maverick, por exemplo, trouxe Tom Cruise de volta ao papel que o destacou, levando os espectadores a reviverem momentos marcantes do clássico de 1986, como as cenas com motos ao pôr do sol, as competições de voo e a famosa trilha sonora, mas com uma nova perspectiva e grandes doses de ação. Da mesma forma, Cobra Kai, a sequência de Karate Kid, encontrou um grande público ao juntar o charme dos anos 80 com uma história atualizada que reflete os desafios da adolescência atual.

Redes sociais na nostalgia

Filmes e séries não são as únicas formas que utilizam essa ideia da saudade do passado, as próprias redes sociais são veículos em que essa amplificação do sentimento ocorre. Nesse sentido, tendências de moda, músicas e estilo de vida que eram populares nos anos 90 e início dos anos 2000 são tornados comuns de novo.

Imagem: Captura de tela feita pela autora. Acesso em 01/04.

No Tiktok a hashtag “Y2K’ remonta figuras, músicas e tendências que as gerações mais jovens viveram ou consumiram durante sua infância e adolescência. De acordo com Kauã Pinheiro, tiktoker e influencer (@_imbellin), “Criar o novo é difícil, pois não saberemos as reações do público, então é melhor se adaptar a uma coisa que já fez sucesso antes.”

Esse sucesso com o uso da nostalgia no entretenimento levanta a ideia de que a prática pode travar a criatividade da indústria. Ao apostar sempre em fórmulas já conhecidas e seguras, há menos espaços para narrativas originais ou para novas vozes ganharem destaque. De acordo com a crítica Emily Nussbaum da revista The New Yorker, essa tendência cria uma “estética da reciclagem”, na qual o passado é embalado e vendido novamente sem que haja uma verdadeira inovação.

Já o pesquisador Douglas Rushkoff afirma no livro Present Shock (2013) que esse apego ao passado pode levar em um “loop nostálgico”, em que a cultura estaria deixando de olhar para novos horizontes.

Visão psicológica

De acordo com Manoel Vinícius Caldas, psicólogo, “o uso da nostalgia vem da necessidade de conforto emocional, podendo ser um mecanismo de fuga que impede de enfrentar as questões do presente e as complexidades da vida adulta. Pode ser saudável e positiva, ao nos conectar com a própria identidade, porém se excessiva se torna viciante, e nos afasta do presente causando uma grande distorção da realidade.”

Então, é possível analisar que a nostalgia se tornou uma presença forte na cultura, criando conexões e trazendo memórias boas à tona. No entanto, quando esse uso se torna excessivo, corre-se o risco de estagnar histórias e parar com a criação de novas. O segredo está em equilibrar o que é nostálgico com a necessidade de inovação. Para as futuras gerações terem novas memórias e criarem conexões com narrativas que as surpreenderão. Por fim, a nostalgia tem seu valor, mas o futuro depende de novas histórias que também merecem ser lembradas.

Foto da capa: cottonbro studio/ Pexels
Edição por Lucas Cardamone e Mariana Lumy

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