Afinal, por que o Vini Jr. não ganhou a Bola de Ouro?

Afinal, por que o Vini Jr. não ganhou a Bola de Ouro?

A premiação teve uma reação inesperada do público ao entregar o título de melhor jogador da temporada para o espanhol Rodri, que foi vaiado.

Texto por: Guilherme Marchi, Lucas Cardamone e Isabela Torquato

Nesta segunda-feira (28), houve a premiação mais esperada do ano para os fãs de futebol. A revista France Football, em parceria com a UEFA e o jornal L’equipe, entregou a Bola de Ouro. Evento cujos questionamentos a respeito de sua credibilidade são levantados regularmente. Neste ano, a maior polêmica gerada após a cerimônia foi sobre o principal prêmio da noite. Rodri, espanhol que atua pelo Manchester City, foi eleito o melhor jogador da temporada 2023/24, mas a repercussão não foi das melhores, já que o grande favorito ao prêmio era Vinicius Júnior.

Os organizadores da cerimônia colocam como critérios para a votação: “Desempenhos e conquistas da equipe”; \”Desempenhos individuais, caráter decisivo e impressionante”; e “Classe e jogo limpo (conhecido como fair play)”.

Sabendo dos requisitos para conquistar o troféu, surge um questionamento na cabeça dos amantes de futebol: Por que o Vinicius não ganhou a Bola de Ouro? A Revista Vulpes fez uma análise que passa por cada critério na tentativa de achar uma resposta.

DESEMPENHOS E CONSQUISTAS DA EQUIPE

Rodri, o vencedor da premiação no ano, conquistou quatro títulos nesta temporada, sendo três deles pela equipe de Manchester: Mundial de Clubes, Supercopa Europeia e a Premier League. A quarta, e mais relevante taça do ano para o atleta foi a Eurocopa, conquistada por sua seleção doze anos após o último triunfo.

Vini, entretanto, não deve nada a Rodri nesse aspecto, já que o brasileiro conquistou o título da La Liga, a Supercopa da Espanha e a almejada Champions League, eliminando justamente o Manchester City nas quartas de final do torneio.

Nenhuma informação relacionada a títulos parece solucionar o questionamento gerado… Melhor buscar em outro critério da premiação.

O primeiro colocado na Bola de Ouro 24 (Rodri) e o segundo colocado (Vinicius Júnior) dando as mãos enquanto o atleta negro segura uma badeira com uma mensagem que borda igualdade RACIAL – Créditos: Rafael Ribeiro/CBF

DESEMPENHOS INDIVIDUAIS, CARÁTER DECISIVO E IMPRESSIONANTE

Na Premier League, Rodri anotou 9 gols e 8 assistências em 34 partidas, números acima da média para um volante que tem como principal intuito auxiliar na marcação e criação de jogadas. O espanhol foi o 27° jogador da competição com mais desarmes, 43º em grandes chances criadas e o com mais passes certos. Em março deste ano, Pep Guardiola afirmou que o companheiro de Rodri, Phil Foden, era o principal atleta do time na temporada. A opinião do treinador foi a mesma dos jornalistas e ex-atletas que elegeram Foden como o melhor jogador da Premier League. Mostrando que Rodri não era o protagonista nem do próprio time.

Por sua seleção, Rodri foi eleito o melhor jogador da Eurocopa pela própria organizadora do torneio, a UEFA. Mas esse prêmio realmente foi justo? O espanhol não foi o grande destaque em nenhuma estatística, tendo anotado um gol e nenhuma assistência, além de ter sido apenas o oitavo jogador com mais desarmes, o sétimo em passes certos e o sétimo de sua equipe em passes decisivos.

Vini, por sua vez, teve um rendimento abaixo na seleção brasileira, somando dois gols e duas assistências na temporada inteira. Por outro lado, pelo Real a participação do brasileiro foi decisiva. Com 20 participações de gols em 26 partidas no campeonato espanhol, Vinicius realmente se destacou na fase de mata-mata da Champions. Sendo o jogador com mais participações em gols e dribles certos na fase aguda do torneio, o craque conquistou o prêmio de atleta do campeonato e o favoritismo ao prêmio da Bola de Ouro.

Entendendo que o troféu não foi para as mãos do Vini nem por desempenho individual, nem coletivo, apenas resta olhar o último critério…

CLASSE E JOGO LIMPO/FAIR PLAY

Teoricamente, o “fair play” significa ter respeito, honestidade e espírito esportivo. O jornalista e produtor de conteúdo da TNT Sports, Gabriel Bertoli, dá a sua visão sobre a ida do troféu não ter sido para o Vinicius: “Com certeza usaram a desculpa do fair play para reforçarem a visão racista de que o Vini não merecia o lugar mais alto e, assim, tirar o prêmio dele”, opina o jornalista.

Em coluna publicada no diário catalão Sport, o jornalista L. Miguel Sanz diz que o volante espanhol venceu a \”Bola de Ouro dos valores\”, alegando que os protestos e as supostas provocações contribuíram para a derrota de Vinicius. “Aqui não vale só ganhar e meter gols” dispara o jornalista contra o brasileiro, alegando que o campeão da Euro tem um jogo mais limpo. Contudo, Rodri também já se envolveu em algumas polêmicas, chegou a ser até suspenso de uma partida por ofender a pátria de outro país ao gritar que Gibraltar é espanhol (território que já foi dominado pelos espanhóis, mas que hoje pertencem à Grã-Bretanha). Outro momento que gera dúvidas se o atleta do City é realmente tão correto ocorreu após a premiação da Bola de Ouro, quando o Manchester City publicou um vídeo no qual Rodri debocha de Vini Jr por o vencer. O vídeo foi apagado poucos minutos após sua publicação, mas está disponível na internet.

https://www.instagram.com/p/DBuGIS3vF3I/?igsh=ejR1cDFjeGg4YnNq&img_index=2

Uma parcela das ocasiões em que Vini Jr. é chamado de provocador  é consequência de uma reação combativa do jogador aos insultos racistas que são regularmente a ele. É quase que rotineiro os episódios de racismo contra o brasileiro nos estádios, tendo, no mínimo mais vinte casos de injúria racial ocorridos desde que o atleta passou a jogar na Espanha, além de falas de jornalistas e comentários feitos nas redes sociais que tem como intuito denegrir a imagem do carioca por sua cor de pele.

Vinicius é o jogador mais influente na luta contra o racismo. Seus protestos incomodam e geram resultados positivos na luta pela igualdade racial. Em 2023, foi aprovada no Brasil a lei Vinicius Jr., criada para combater o racismo em eventos esportivos. Outra mudança foi a proposta feita pelo campeonato espanhol ao governo nacional para modificar uma lei, dando à federação espanhola a autoridade de aplicar medidas mais firmes em casos de violência, racismo, xenofobia e outras intolerâncias.

Vinicius Júnior passa por coisas que ninguém deveria ser obrigado a passar e está longe de ser o único. Sua resistência inspira diversas pessoas no Brasil. Uma delas, é o jogador das categorias de base do São Paulo, Cauã Lucca, que diz se inspirar no atleta do Real Madrid: “mesmo com as críticas, como o caso do racismo, ele sempre seguiu com a cabeça firme. Isso é o mais importante. Então, é um cara muito forte, ensina a não desistir dos seus sonhos, porque não é fácil. Vai ter uma barreira para encontrar o seu topo, mas é só um obstáculo. O certo é não desistir”, afirma o atleta que sonha em ser jogador profissional.

Para Gabriel Bertoli “Vini vai precisar continuar lutando. Uma batalha que não é só dele, né? Que deveria ser de toda a população mundial, mas que a gente enxerga que não é nem de toda a população brasileira. É uma luta muito difícil”.

PASSADO, PRESENTE FUTURO DA BOLA DE OURO

É verdade que a France Football construiu uma grande tradição com o evento da Bola de Ouro, mas a premiação sempre contou com algumas exclusões. A cerimônia chegou a ser conhecida mundialmente como \”Futebolista Europeu do Ano\” pois de 1956 a 1994, apenas europeus podiam ser premiados. Após isso, a revista francesa buscou uma mudança e passou a abranger a premiação para todos os que jogavam na Europa, mas sem considerar atletas que atuavam em outros continentes. Em 1995, George Weah, o jogador que entregou o prêmio para Rodri, foi o primeiro jogador africano a conquistar uma Bola de Ouro. As equipes fora da Europa passaram a ser analisadas apenas em 2007, menos de 18 anos atrás. E então a revista fez uma menção aos atletas do século passado que mereciam a premiação. Foram os casos do Pelé, Maradona e Romário, por exemplo.

Observando a história do evento fica evidente a visão eurocentrista que vai se tornando mais discreta, mas não inexistente. Na última votação para o melhor jogador do mundo, foram contabilizados 100 votos de jornalistas de diferentes países, estabelecidos através dos primeiros colocados no ranking internacional de seleções da FIFA. Dos 100 países, 42 são europeus.

Esse foi o primeiro ano de parceria entre a France Football e a UEFA, e resta ver o quanto essa parceria foi e ainda será benéfica para ambas as partes. 

A premiação conseguirá recuperar o prestígio que já teve no passado?

Quadro o qual Vinicius Júnior está inserido em uma mão com o punho cerrado. Simbolizando a luta contra o racismo – Créditos: Instagram/@vinijr

https://www.instagram.com/p/C6uVIbjoAcj/?img_index=1
Vinicius comemorando e sendo recepcionado com abraços pela torcida madridista
https://www.instagram.com/p/CyrUIHIIfB9/

EDIÇÃO POR MARIANA LUMY

Autores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima